NOTA PESSOAL A RESPEITO DA NOSSA SITUAÇÃO EM PETRÓPOLIS
Para refletir antes de criticar ações que, inevitavelmente terão que ser tomadas muito brevemente
Com certeza existem muitos profissionais por aqui, voluntários e muito competentes que estão sendo fundamentais neste momento pelo qual estamos passando aqui em Petrópolis. Muitas pessoas maravilhosas se esforçaram ao máximo para ajudar nossa população com doações, as vezes, acima de suas possibilidades.
O que vou comentar não é, de forma alguma, uma contraposição às supostas denúncias de que determinados voluntários estão sendo convidados a se retirarem, doações que não estão sendo aceitas e, muito menos, uma defesa a qualquer governante. O que vou comentar é o que tenho observado nos últimos dias caminhando pelo nosso centro por cima de lama e escombros.
Estamos tendo uma resposta incrivelmente grande de pessoas de todas as partes com doações, serviços e apoios dos mais diversos tipos. Entretanto, o excesso gerou vários problemas sociais e operacionais em nossa cidade. Praticamente não há mais locais que estão aceitando doações. Está tudo superlotado e não há pessoal para escoar isso nem pessoal para fazer a triagem disso. Inúmeros carros de outras cidades ficam rodando perdidos pelas nossas ruas sem saber onde entregar as doações ou não encontrando instituições que as aceitem. Isso congestiona ainda mais as nossas ruas que, conforme constantes apelos da Prefeitura, devem ficar liberadas para os carros de socorro. Eu moro em uma das principais ruas do centro, todos os carros de socorro passam por ela. As vezes eles levam 15, 20 minutos para percorrer 500 metros, pois a rua está lotada com carros de doação de outras cidades, pessoas que, nitidamente, estão passeando, achando graça, não sei do quê, motociclistas fazendo exibições empinando suas motos, carros particulares que se dizem de “apoio” (não se de quê) e sobem pelas calçadas, gritando com as pessoas e com outros motoristas como se fossem carros de socorro.
Adicionalmente, estamos observando um fenômeno social muito preocupante que foi apelidado aqui de “fenômeno Cosme e Damião”: em decorrência de locais e veículos abarrotados de doações pelas ruas, estamos vendo inúmeras pessoas correndo pela cidade em busca de cestas de doação. As vezes parecem famílias inteiras, cada pessoa com dois, três sacos de mantimentos. Param em pontos, jogam fora o que não interessa das cestas conquistadas e pegam novos produtos em outros pontos e assim seguem. Este fenômeno eu mesmo presenciei ontem e hoje. Cheguei em casa e comentei que era o fenômeno Cosme e Damião e hoje descobri, em uma postagem pública de uma instituição religiosa daqui, que eles também deram esse mesmo nome.
Tudo isso estou comentando (ou desabafando), insisto, não é desprezando a ajuda desses heróis (a quem devemos muito) nem em defesa de qualquer governo (que, na realidade, nada tem feito para evitar essas catástrofes aqui). Estou comentando para que as pessoas compreendam que estamos chegando a uma situação que temos que “filtrar” as contribuições, as doações, a entrada de pessoas e de veículos. Estamos próximos a um caos social e operacional como se não bastasse o caos sanitário, psicológico e econômico.
É hora de entendermos isso e buscarmos outras alternativas e momentos de ajuda, pensar bem se os vídeos e textos de “denúncias” que correm nos “zapzap” da família mostram a realidade que, nós moradores, estamos sentindo aqui, na pele.
Relato do morador de Petrópolis: Sr° Alberto Alvarães
foto G1